sábado, 31 de março de 2012

Os quatro pilares da Educação

Em primeiro lugar, gostaria de salientar o conceito de "Educação" e destrinçar o seu significado.
A educação não é um processo que se faça apenas em casa e na escola num determinado momento. Ela é transversal a todos os contextos e durante toda a vida. Aprende-se, essencialmente, através da relação interpessoal com o "Outro", num contexto formal ou não formal. E nesta relação dinâmica do processo de ensino-aprendizagem processa-se a educação da pessoa humana mediada pela socialização. Neste âmbito, de acordo com Delors (1996, p. 54) “A educação pode ser um factor de coesão, se procurar ter em conta a diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos, evitando tornar-se um factor de exclusão social”.
Na perspetiva de Ramos (n.d., p. 3) “Não é possível estudar a educação desligada das evoluções sociais. A educação é produto de uma história de sociedade e ao mesmo tempo um determinante essencial para o futuro”. Na perspetiva de Delors (1996, p. 11), a educação é o “trunfo indispensável à humanidade na construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social”. Para Clímaco (2005, p. 9), “A educação (…) é uma fonte de enriquecimento pessoal, mas também um contributo para a coesão social, para a inclusão social e para a resolução dos problemas do trabalho e do emprego”. A educação relaciona-se deste modo de uma forma dinâmica e mutualista com a sociedade, gerando desenvolvimento pessoal e social dos cidadãos a todos os níveis.
Para se clarificar ainda o conceito de "educação", ao consultarmos a Wikipédia, esta refere que a Educação engloba os processos de ensinar e aprender. É um fenómeno observado em qualquer sociedade e nos grupos constitutivos destas, responsável pela sua manutenção e perpetuação a partir da transposição, às gerações que se seguem, dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade. Enquanto processo de socialização, a educação é exercida nos diversos espaços de convívio social, seja para a adequação do indivíduo à sociedade, do indivíduo ao grupo ou dos grupos à sociedade. Nesse sentido, educação coincide com os conceitos de socialização e endoculturação, mas não se resume a estes.”


Outra fonte, a Infopédia, salienta que o conceito de "Educação" é definido da seguinte forma:
"1. processo que visa o desenvolvimento harmónico do ser humano nos seus aspetos intelectual, moral e físico e a sua inserção na sociedade
2. processo de aquisição de conhecimentos e aptidões
3. instrução
4. adoção de comportamentos e atitudes correspondentes aos usos socialmente tidos como corretos e adequados; cortesia; polidez;
educação especial - educação dirigida a alunos portadores de necessidades educativas especiais;
educação física - disciplina escolar que ensina ginástica, atletismo e outras práticas desportivas, visando o desenvolvimento das capacidades motoras do indivíduo;
educação inclusiva - sistema segundo o qual as escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, intelectuais, emocionais, etc.;
educação permanente - formação contínua que visa a atualização dos conhecimentos de indivíduos integrados no mercado de trabalho".

Os quatro pilares da Educação são conceitos que fundamentam a Educação e foram apresentados no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, coordenada por Jacques Delors. Este documento propõe uma educação ancorada em quatro tipos fundamentais de aprendizagem: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser, assumidos como os quatro pilares fundamentais da educação. A consistência e inter-relação dinâmica de todos estes quatro pilares revelam-se fulcrais para a estabilização e harmonia do edifício, simbolizado pela Educação. Neste âmbito, gostaria de salientar a metáfora que o nosso Professor Doutor António Moreira nos colocou sobre o Pártenon, enquanto símbolo da harmonia, do equilíbrio, da proporção (razão dourada ou retângulo de ouro conotados com perfeição) e da sofisticação. Tal como na Grécia Antiga, os valores a defender na atualidade são os mesmos. Se no passado, o Pártenon rompeu com o estabelecido em várias áreas do conhecimento, na atualidade, através da Educação há que mudar mentalidades, inovar e promover a mudança, sustentadas na articulação equilibrada e harmoniosa dos quatro pilares.



Mas o que sustenta o referido Relatório para a UNESCO?
Nesse relatório, sustenta-se que um dos papéis primordiais da Educação é educar para o desenvolvimento humano, dotar o Homem da capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento, construir ideais de paz, tolerância, solidariedade, liberdade e justiça social.
No que concerne ao devir da Humanidade, o relatório refere-se às ameaças ambientais e à falta de meios suficientes para enfrentá-las, apesar de já terem sido implementadas algumas medidas. O respeito pela condição humana e pelo capital natural são outros assuntos que o documento aborda, pois o crescimento económico a qualquer custo pode pôr em causa a sobrevivência de muitas espécies, inclusive, a humana. Há que garantir este tesouro natural e transmiti-lo, em bom estado, às gerações vindouras. Este perigo ambiental está bem patente na "Earth Song", interpretada por Michael Jackson. Nos tempos atuais, a falta de equidade entre homens e mulheres no acesso ao trabalho e à educação, a falta de equidade no acesso à informação, as doenças, a fome, o efeito de estufa, as secas permanentes e as chuvas diluvianas são problemas que afetam, profundamente, todas as nações.


Até quando ignoraremos as graves ameaças que fazemos ao ambiente e a nós próprios?
Assim, as políticas educativas têm de dar resposta a estes desafios, contribuindo para um desenvolvimento sustentável e para um mundo de paz e prosperidade entre os povos. Deste modo, a Educação é entendida como uma força anímica que permite realizar transformações nas mentes e nas sociedades do futuro pois estamos a educar os próximos governantes das nações. De acordo com Delors (1996. p. 16), a educação "(…) situa (se) no coração do desenvolvimento tanto da pessoa humana como das comunidades. Cabe-lhe a missão de fazer com que todos sem exceção, façam frutificar os seus talentos e potencialidades criativas, o que implica, por parte de cada um, a capacidade de se responsabilizar pela realização do seu projeto pessoal.” Com base neste pressuposto, podemos sustentar que a função dos sistemas educativos é congregar sinergias entre a educação e a sociedade. Na atualidade, isso passa por uma formação ao longo da vida e pelo desenvolvimento de competências nos alunos, a fim de prepará-los para a vida em sociedade. Muitos dos empregos do futuro ainda não foram criados nem sabemos o seu nome. No entanto, cabe à escola o desenvolvimento das competências nos alunos que promova a sua adaptação psicossocial a esses novos contextos. Neste âmbito, a democratização do conhecimento passa pela capacitação das pessoas para receber esse conhecimento pois de acordo com Calle e Silva (2008, p. 4) "(...) mesmo que o conhecimento possa ser disseminado ou transmitido facilmente, rapidamente e ainda a baixo custo, precisa-se de uma base já existente de conhecimento e experiência por parte das pessoas (...)". Calle e Silva (2008, p. 10) sustentam ainda que o Estado deverá visar dois objetivos fundamentais: garantir a inclusão e o acesso da população às Novas Tecnologias de Informação e Comunicação e fomentar a pesquisa científica como processo criador do conhecimento.


Em relação às desigualdades existentes em muitos dos sistemas educativos, inerentes às diversidades culturais e sociais das suas populações, Delors (1996, p. 51) salienta: "Em todo o mundo, a educação, sob as suas diversas formas, tem por missão, criar, entre pessoas, vínculos sociais que tenham a sua origem em referências comuns (…) a educação tem como objetivo essencial, o desenvolvimento do ser humano na sua dimensão social. (…) Os sistemas educativos encontram-se, assim, submetidos a um conjunto de tensões, dado que se trata, concretamente, de respeitar a diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos". Esta citação de Jacques Delors demonstra-nos quão importante é a educação e o respeito pelas culturas dos povos ou de grupos de minorias étnicas. A aldeia global também se transforma com o multiculturalismo de um país. No nosso país esta questão é bem evidente. Há que ter respeito pelos direitos humanos e tratar todos com equidade. Neste âmbito, de acordo com Homi Bhabha1 "A articulação social da diferença, da perspetiva da minoria, é uma negociação complexa, em andamento, que procura conferir autoridade aos hibridismos culturais que emergem em momentos de transformação histórica." Ainda adentro desta temática do multiculturalismo, D. Harvey1 explica que "as mutações que levaram o mundo a uma condição de pós-modernidade (formando-se uma sociedade pós-moderna caracterizada por infinitas trocas instantâneas), para dizer que a nova comunicação global ao alterar a nossa perceção de tempo espaço (trazendo o distante para perto, e ao mesmo tempo nos levando para o distante), também alterou a nossa relação com o "Outro", ampliando extraordinariamente nossas possibilidades de contato com modos diferentes de vidas." Esta relação leva-nos a ter uma visão não como a de um cidadão de um país específico mas como a de um cidadão do mundo.



Em suma, na minha opinião e na opinião transmitida em fórum pelos colegas Mestrandos, a educação terá um papel de relevância extrema na mudança de mentalidades, na inovação e na construção da sociedade hodierna e do futuro. Só através dos processos de literacia permanente, recorrente e sistemática, os indivíduos poderão interpretar e apropriar-se do conhecimento, evoluindo e gerando mais conhecimento. A informação tem de ser lida e interpretada, colocando esse saber em uso (competência) na resolução de novas situações, ocorridas nos contextos do quotidiano societal. Na minha perspetiva, ainda falta muito para fazer mas estamos no bom caminho...

Referências bibliográficas:
Calle, G. A., & Silva, E. L. (2008). Inovação no contexto da sociedade do conhecimento. Revista TEXTOS de la CiberSociedad, Número 8 Temática Variada.


Clímaco, M.C. (2005). Avaliação de Sistemas em Educação. Lisboa: Universidade Aberta.

Delors, J. (Coord.) (1996). Educação Um Tesouro a Descobrir - Relatório da UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI.


Ramos, C. (n.d.). Tendências evolutivas das Sociedades Contemporâneas. Lisboa: Universidade Aberta.






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